Retrato paterno
DOI:
https://doi.org/10.47633/s0j4r790Palavras-chave:
poesia, literatura, escritaResumo
Retrato Paterno
Lucía Gabriela Vindas Vargas
Meu pai carrega em cada dobra de sua pele
incontáveis histórias guardadas
pelas hortênsias brancas de seus cabelos;
enquanto sua testa infantil divaga entre adivinhas,
e coleciona provérbios para nunca envelhecer.
Em suas mãos, milagres são frequentes,
transformando o cotidiano em um ato de ternura:
couros, tecidos, madeiras, metais e plásticos
se metamorfoseiam ao toque de seus dedos,
enquanto ele invade cada um com sua arte.
Gostava de vender sorrisos
embrulhados em papel de pão,
e perpetuar os costumes de domingo
na madrugadora mercearia;
além de domesticar abelhas
e conversar com elas à sombra de algum cajueiro.
Quando seus ossos de vime eram mais fortes,
transportava cana e café
com seu trator carregado de sonhos;
e retratava os tempos passados de sua pupila remendada
com sua pequena câmera de tom sépia.
Apaixonou-se por minha mãe num dia de Corpus Christi,
e desde então encheu seu leito de devoções,
lançou os alicerces para o fértil terreno de seu casamento
onde forjaram as seis vidas que herdam seu legado,
essas seis vidas que hoje tentam assemelhar-se, pelo menos um pouco,
ao retrato insuperável que carrega seu nome.
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